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O retorno da câmera VistaVision em ‘O Brutalista’

  • março 20, 2025
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A volta desse sistema de filmagem também reacende o debate sobre o uso da película em um mercado dominado pelo digital.

O retorno da câmera VistaVision em ‘O Brutalista’

O Retorno da VistaVision no Cinema

Por décadas, a VistaVision permaneceu como um vestígio técnico de uma era em que Hollywood travava batalhas ferozes por inovação na tela grande. Seu retorno em O Brutalista, filme dirigido por Brady Corbet e fotografado por Lol Crawley, marca um momento histórico no cinema contemporâneo. Para entender a importância dessa escolha, é preciso revisitar a trajetória dessa tecnologia, desde sua ascensão até seu desaparecimento e posterior redescoberta.

Ambientado no pós-Segunda Guerra Mundial, O Brutalista acompanha a trajetória de um arquiteto húngaro e sua esposa ao imigrar para os Estados Unidos. A escolha da VistaVision para a captação não foi apenas um gesto nostálgico, mas sim uma decisão estética cuidadosamente pensada. O formato, conhecido por sua nitidez e riqueza de detalhes, permitiu capturar a monumentalidade da arquitetura brutalista sem as distorções comuns em lentes superangulares. A profundidade de campo ampliada e a textura cinematográfica desse sistema contribuíram para reforçar a atmosfera visual do filme, criando uma experiência imersiva e autêntica.

O Brutalista
O Brutalista

A História da VistaVision

Nos anos 1950, a indústria cinematográfica enfrentava um grande desafio: competir com a crescente popularidade da televisão. Para atrair o público às salas de cinema, os estúdios apostaram em novos formatos de tela larga. A 20th Century Fox introduziu o Cinemascope, a Warner Bros. tentou o Warner SuperScope e a Paramount Pictures desenvolveu a VistaVision, que prometia imagens superiores em definição e estabilidade. Enquanto o Cinemascope utilizava lentes anamórficas para comprimir e descomprimir a imagem, a VistaVision rodava o filme horizontalmente, gerando um negativo quase três vezes maior que o padrão da época. Isso resultava em uma imagem mais detalhada e com menos granulação.

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Comparação entre câmera VistaVision e câmera 35 mm
Comparação entre câmera VistaVision e câmera 35 mm

O primeiro filme rodado nesse formato foi White Christmas (1954), um grande sucesso de bilheteria. A tecnologia também foi usada em superproduções como Os Dez Mandamentos (1956) e em clássicos de Alfred Hitchcock, incluindo Ladrão de Casaca (1955), Um Corpo Que Cai (1958) e Intriga Internacional (1959). No entanto, a necessidade de projetores específicos para exibições no formato original dificultou sua adoção em larga escala. Além disso, a decisão da Suprema Corte dos EUA em 1948, no caso United States vs. Paramount Pictures Inc., impediu que os estúdios mantivessem controle sobre seus próprios cinemas, dificultando a implementação de novas tecnologias de projeção. Com os avanços nas emulsões fotográficas e a melhoria da qualidade do 35mm tradicional, a VistaVision foi gradualmente abandonada como formato de filmagem principal.

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VistaVision nos Efeitos Visuais

"Os Dez Mandamentos" (1956) com Yvonne DeCarlo, Charlton Heston e John Derek.
"Os Dez Mandamentos" (1956) com Yvonne DeCarlo, Charlton Heston e John Derek.

Apesar disso, a VistaVision encontrou uma nova utilidade na indústria dos efeitos visuais. Sua qualidade superior permitia composições mais precisas, sendo empregada em Star Wars (1977), Jurassic Park (1993) e Matrix (1999). O formato continuou sendo utilizado nos bastidores, mesmo longe do protagonismo, sendo essencial para a criação de efeitos especiais antes da popularização dos recursos digitais.

Além de seu impacto em Hollywood, a VistaVision também teve influência no cinema japonês, especialmente em animações. Produções como Lupin III: O Mistério de Mamo utilizaram esse formato para capturar imagens com maior definição e estabilidade, garantindo uma qualidade visual superior. Essa adoção em produções animadas demonstra a versatilidade do formato, que se manteve relevante mesmo fora das grandes produções ocidentais.

O Impacto de O Brutalista

Agora, com O Brutalista, a VistaVision retorna como formato principal em um longa-metragem pela primeira vez em mais de seis décadas. Para garantir que a riqueza de detalhes captada pela câmera fosse preservada, o filme será exibido em algumas salas no formato 70mm, evitando a perda de qualidade que ocorreria ao reduzir a imagem para 35mm padrão. Além disso, haverá exibições em IMAX, um movimento que, embora possa parecer inusitado para um filme rodado nesse formato, se justifica pela popularidade e apelo comercial das projeções em grande escala. Essa escolha amplia o alcance da obra, permitindo que mais espectadores tenham acesso à experiência visual que a VistaVision proporciona.

05 brutalista vistavision

O Futuro da VistaVision

A volta desse sistema de filmagem também reacende o debate sobre o uso da película em um mercado dominado pelo digital. Atualmente, câmeras como ARRI Alexa e RED oferecem uma gama dinâmica impressionante e flexibilidade na pós-produção. No entanto, muitos cineastas continuam optando por formatos analógicos devido à textura única e profundidade de cor proporcionadas pela película. A VistaVision, diferentemente do digital IMAX, oferece uma imagem menos comprimida e com uma estética mais orgânica, que pode ser crucial para narrativas que buscam um visual mais natural e artesanal.

O retorno da VistaVision em O Brutalista representa mais do que uma escolha estilística; é uma reafirmação do cinema como arte visual e um lembrete da importância da inovação técnica para a evolução da sétima arte. Seja pela nostalgia ou pela busca por um impacto visual mais autêntico, a VistaVision prova que há espaço para formatos clássicos coexistirem com as tecnologias digitais. Se essa ressurreição será um caso isolado ou um novo caminho para cineastas que valorizam a estética da película, só o tempo dirá. No entanto, quando um filme resgata uma técnica quase esquecida e a insere com propósito no cenário contemporâneo, ele não apenas homenageia o passado, mas também aponta novas direções para o futuro do cinema.

Assista o trailer de O Brutalista

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