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Bromélias: vilãs ou vítimas?

Hoje o papo é urbano! Mas envolve os jardins da nossa casa, as bromélias então em segundo lugar nos lares brasileiros, e esse assunto tem causado dores de cabeça nos amantes do paisagismo tropical! 

O Rio de Janeiro vive a pior epidemia de dengue da história, de acordo com as projeções da Secretaria Estadual de Saúde (SES-RJ). Já são mais de 75 casos no estado, com 6 mortes confirmadas ( (dois na capital, um em Cachoeiras de Macacu, dois em Itatiaia e um em Mangaratiba) e outras 63 em investigação. 

A doença é transmitida pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti, transmissor também de outras doenças, como chikungunya e zika.

O macho, como de qualquer espécie de mosquito, alimenta-se exclusivamente de frutas. A fêmea, no entanto, necessita de sangue para o amadurecimento dos ovos que são depositados separadamente nas paredes internas dos objetos, próximos a superfícies de água limpa, local que lhes oferece melhores condições de sobrevivência. No momento da postura são brancos, mas logo se tornam negros e brilhantes. 

Em média, cada mosquito vive em torno de 30 dias e a fêmea chega a colocar entre 150 e 200 ovos. Se forem postos por uma fêmea contaminada pelo vírus da dengue, ao completarem seu ciclo evolutivo, transmitirão a doença.

É importante destacar que o A. aegypti só deposita seus ovos preferencialmente em águas limpas. Suas larvas não conseguem sobreviver em reservatórios poluídos, com dejetos e muita matéria orgânica. Ao contrário do A. aegypti, o Culex quinquefaciatus, o pernilongo doméstico prefere colocar seus ovos em criadouros poluídos, com muita matéria orgânica em decomposição.

E as Bromélias? 

As bromélias são plantas tropicais muito comuns nos lares brasileiros, perdendo apenas para as orquídeas. Com mais de 60 gêneros e 3.000 espécies, a família das Bromeliáceas é nativa das Américas do Sul, Central e Norte, motivo pelo qual se adaptam tão bem ao nosso clima. 

Existem algumas espécies da família que possuem o nome popular de Bromélia-tanque por possuírem um tipo de fitotelmo (depósitos de água pluvial); no seu caso suas folhas estão distribuídas em forma de espiral, e que, por isso, podem armazenar água. Isso é resultado de um processo evolutivo que possibilitou a estas espécies adaptarem-se e sobreviverem em habitats com as mais variadas condições ambientais. As espécies-tanque possuem elevada importância para os ecossistemas em que estão inseridas, principalmente naqueles onde há pouca água livre disponível. Nestas formações, as bromélias possuem um papel importante como facilitadoras para o estabelecimento de outras espécies vegetais e como incrementadores da diversidade biológica. Então já sabemos que não são TODAS as bromélias que possuem a capacidade de armazenar água. 

Se você observar as bromélias que ocorrem de forma natural no nosso bioma, ou estão nos nossos quintais, dentro de seus “tanques” encontramos também folhas e outros materiais em decomposição. As bromélias constituem um grupo de plantas particularmente adaptado à vida epífita (vivem sobre outras plantas usando-as como suporte), muitas vezes não tem conexão direta com o banco de nutrientes do solo mas conseguem sobreviver, graças aos seus atributos morfológicos e fisiológicos como tricomas e tanques acumuladores, com a decomposição das matérias das copas das árvores. Lembrem que as larvas dos mosquitos não toleram matéria orgânica na água que se desenvolve…

E o quê que uma coisa tem a ver com outra? 

Já foi sugerido que as bromélias-tanque são foco do mosquito da dengue e o extermínio dessas espécies dos nossos lares já foi incentivado! 

Um estudo científico foi realizado, com o objetivo de determinar a relevância de bromélias do Jardim Botânico Municipal de Bauru-SP como criadouros de larvas de A. aegypti e A. albopictus, destacando implicações epidemiológicas da utilização dessas plantas em coleções de jardins botânicos e para fins paisagísticos. Neste estudo, foi verificada mensalmente a presença de larvas no tanque e axila de todas as bromélias do Jardim Botânico Municipal de Bauru, no período de janeiro a dezembro de 2015. Num total de  5.820 verificações, 38 delas foram encontradas larvas de mosquitos. Uma foi positiva para A. aegypti, cinco para A. albopictus e a grande maioria das coletas positivas para larvas de mosquitos do gênero Culex  (o mosquito doméstico). Do total de 152 larvas coletadas, 143 foram de larvas de mosquito do gênero Culex, duas de A. aegypti e sete de A. albopictus. O estudo concluiu portanto que ) as bromélias não constituem focos do A. aegypti ou A. albopictus, prevalecendo o encontro de larvas de mosquito do gênero Culex e que este, ainda pode competir com outras larvas (se houverem). 

A melhor forma de se evitar a dengue é combater os focos de acúmulo de água, locais propícios para a criação do mosquito transmissor da doença como em recipientes como latas e garrafas vazias, pneus, calhas, caixas d’água descobertas, pratos sob vasos de plantas. 

Então, deixemos as bromélias colorindo nossas casas e jardins! Se você quiser reforçar o cuidado, observe sempre após as chuvas os tanques das bromélias que estão nas áreas externas, evite regar as folhas das bromélias nas áreas internas e pode acrescentar aquela receitinha de 1 colher de sopa de água sanitária para 1 litro de água e adicionar nos tanques, não irá fazer mal à planta e você pode dormir tranquilo!  

Até a próxima semana!

Camila Porto

Camila Porto é engenheira agrônoma formada pela Universidade Federal de Viçosa. Atua na área rural desde 2014, diretamente com agricultores e em constante diálogo com instituições voltadas à pesquisa, assistência técnica e extensão rural como a Emater e Embrapa. Atualmente faz parte do grupo técnico agrícola da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Nova Friburgo e desde 2021 produz e apresenta o programa Zoom Rural na TV ZOOM.

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