Em semana com atividades voltadas para o curso de Psicologia, Universidade trata sobre pauta delicada
18 de maio: Dia da Luta Antimanicomial. Nesta mesma data, em 1987, iniciou-se no Brasil o Movimento da Reforma Psiquiátrica, que visava o fechamento dos hospícios e manicômios que se espalhavam pelo país. Mas, embora o movimento seja antigo, os resultados mais concretos começaram a aparecer apenas a partir de 2001, quando a Reforma Psiquiátrica tornou-se uma lei, mais especificamente a 10.216.
Há importância de dar visibilidade à luta antimanicomial para que a discussão sobre este tema rompa os limites da Psicologia e seja debatido abertamente na sociedade. As pessoas que possuem transtornos mentais graves, antigamente consideradas “insanas”, são restritas a ter contato apenas com profissionais. O intuito é que elas sejam “vistas” e tenham o mínimo de dignidade de vida.
Em prol do movimento, a Universidade Estácio de Sá de Nova Friburgo, que nesta semana estava com atividades voltadas para o curso de Psicologia, realizou um encontro para conscientização sobre a importância do tratamento de pessoas com transtornos mentais graves em liberdade.
No evento realizado no Campus da Universidade, foram exibidos artesanatos realizados por usuários do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) que é um local de tratamento para pessoas que sofrem com transtornos mentais, psicoses, neuroses graves e demais quadros.
A renda arrecadada é convertida diretamente para os artesãos ou para o próprio Centro. Foi também realizada uma palestra que visa conscientizar a respeito do tema e os detalhes da instituição.
Através da professora Luciana Ferraz, que leciona sobre Técnicas de Entrevista Jornalística, alunos de Jornalismo do campus Estácio Nova Friburgo foram apurar as informações relacionadas ao Dia Internacional da Luta Manicomial e a respeito do Centro de Atenção Psicossocial.
Entrevistas
“Tenho 20 anos de CAPS, depois de 21 internações na clínica Santa Lúcia me encaminharam para o Centro. O CAPS para mim é como um alicerce, pois é um tratamento de liberdade, onde vamos para nos tratar e, depois, voltar para casa. Quando estou mal vou pra lá, os remédios me controlam e as oficinas terapêuticas me ajudam como um apoio e uma base muito importante…”- J.M., usuária do CAPS.
Sobre o surgimento dessas instituições, a coordenadora de Psicologia da Estácio, Lilian Black, afirmou que: “o CAPS é um dispositivo que faz parte da política pública nacional de saúde mental, que foi efetivada a partir da lei da reforma psiquiátrica do ano de 2001, mas é o resultado de uma luta que começa lá em 78, na redemocratização do Brasil, onde além da vigência do SUS e da volta de vários direitos nossos, a luta antimanicomial seguia forte, e a gente começou a trabalhar no Brasil com modelos substitutivos aos manicômios, territorializados, onde a pessoa poderia ter seu cuidado em liberdade. E temos CAPS hoje em mais de 3.500 cidades do Brasil”.
Nesses centros de auxílio são realizadas atividades de acolhimento para pessoas com transtornos mentais graves e seus familiares. Dentre as atividades oferecidas estão: psicoterapia, terapia ocupacional, reabilitação neuropsicológica, entre outras ações que trabalham a criatividade e capacidade motora dos pacientes, segundo depoimento de J.M.:
“Tem oficina de crochê e tricô, tapete tipo esquadrias, pintura em tecido, oficina de leitura onde lemos um livro e depois debatemos sobre ele, oficina de marcenaria, pinturas de quadros. São várias, são muitas!”
De acordo com a estagiária do CAPS e estudante de psicologia, Gabriela Galdolfe, existem ações que o público geral pode participar e auxiliar também:
“Acontecem várias atividades, algumas são externas, outras acontecem só para os usuários lá dentro. A roda de leitura é uma delas. A gente se encontra toda quinta feira, às 9h30, e aí a gente leva eles para fora. Eles escolhem os livros, os lugares, a gente vai para a Arp, para o shopping ou então para alguma biblioteca.’’
Além disso, Gabriela nos contou que existe outro projeto desenvolvido lá: “tem o Criarte também em que eles desenvolvem as artes, eles fazem crochê e pinturas, e depois vendem. A renda é convertida para eles e para o próprio CAPS”, afirmou.
Já Caio Monteiro, que também é estagiário do CAPS e estudante de Psicologia, falou sobre a importância da luta neste dia para Nova Friburgo:
“Antigamente o transtorno mental foi visto com muito preconceito, dentro da construção do entendimento da saúde mental. E essas pessoas sempre foram segregadas do convívio social. A luta antimanicomial vem para lembrar que essas pessoas também são capazes de viver no nosso meio, que não são tão diferentes. A gente pensa que o ‘louco’ é uma figura misteriosa ou perigosa, e que não tem nada a ver com a gente, mas quando nós entramos em contato, vemos que não tem tanta diferença entre uma pessoa comum e uma pessoa ‘louca’.’’
E a respeito do convívio das pessoas, com os seus familiares, que sofrem algum tipo de transtorno, a Rebeca Queiroz, estagiária do CAPS e estudante de Psicologia, conta um pouco da importância do Centro para essas famílias:
“Hoje se uma pessoa faz essa escolha de ter alguém na sua casa, porque acha que é possível, ela tem algum apoio para que possa ter junto à ela essa pessoa por perto? Nós temos a rede de atenção psicossocial, que é onde a gente pode recorrer para ter um tratamento adequado e antimanicomial, que bota no convívio social.’’
Sobre a palestra
A palestra realizada na noite de quinta-feira, 18, na Estácio, contou com a presença das psicólogas Patrícia Gula e Rosilene Barradas, e da assistente social Therezinha Ceccon. Elas falaram sobre o processo antimanicomial incentivado pelo CAPS, que acolhe os ex-internos e os inserem novamente na sociedade, através da arte e da cultura. Algumas dessas artes foram expostas na Estácio.
Os interessados em acompanhar a causa podem seguir os perfis no Instagram: “@cri.arte2022” e “@rodadeleituranf”.
Texto produzido pelos seguintes alunos do curso de Comunicação Social da Estácio Friburgo: André Marins, Eude Martins, Gabriel Bairral, Izabella Puga, João Pedro Viana, Júlia Salarini, Júlia Turque, Laís Lima, Lara Rodrigues, Liebert Vieira, Luis Felipe Lemgruber, Mylena Monteiro e Samella Braga.
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