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Mudanças Climáticas: o agro e suas duas faces 

No próximo sábado, dia 16 de Março, é comemorado o Dia Nacional de Conscientização sobre as Mudanças Climáticas. A data foi decretada pela Lei Nº 12.533, de 2011, a fim de articular atos, eventos, debates e mobilizações relacionados a medidas de proteção dos ecossistemas brasileiros. 

O Sexto Relatório do comitê de cientistas do clima da ONU, alertou que o planeta precisa reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 43% até 2030 e zerá-las em 2050, se quiser ter mais de 50% de chance de limitar o aquecimento global em 1,5°C, como preconiza o Acordo de Paris, assinado em 2015. Na última década, porém, as emissões globais tiveram o maior aumento da história, ultrapassaram em mais de 150% os níveis da era pré-industria e as pessoas têm hoje 15 vezes mais probabilidades de morrer devido a condições meteorológicas extremas do que no passado.

É indiscutível a forte influência que o meio ambiente tem na vida do planeta e é também inegável os prejuízos econômicos, sociais e ecossistêmicos que a mudança do clima já tem gerado, com recorrência de eventos de chuvas intensas, quebra de recordes de temperaturas, modificação do regime pluviométrico, o  que leva à modificação no ciclo hidrológico e agrícolas. 

O Brasil, como sexto maior emissor do planeta, tem grande responsabilidade no corte de gases de efeito estufa. Mas também está em melhor posição do que muitos outros países para aproveitar as oportunidades econômicas que a transição para uma economia limpa oferece. 

E os compromissos assumidos com relação à mudança climática dependem, em boa medida, de transformações no campo. Além disso, a agricultura é também uma atividade altamente sensível às mudanças do clima. Estudos apontam uma queda de 30% na produtividade agrícola até 2080, afetando cerca de 50% das áreas aráveis, até 2050. Para o Brasil, aumentos na temperatura entre 1 °C e 5,8 °C representam riscos agroclimáticos com reduções consideráveis nas culturas de feijão, soja, algodão, arroz, milho e cana-de-açúcar. A estimativa de perda na safra de grãos pode atingir R$ 14 bilhões em 2070. 

Isto coloca a necessidade de uma Agricultura de Baixo Carbono e do desenvolvimento de tecnologias para mitigar os efeitos negativos do clima nos cultivos e nas criações. É proteção ambiental e da biodiversidade aliada ao emprego da tecnologia com ampla participação da sociedade civil. 

No mês passado, no Quênia, aconteceu a Conferência sobre Clima e Ar Limpo 2024, das Nações Unidas. No evento, o Ministério da Agricultura apresentou detalhes da experiência na condução do Plano de Agricultura de Baixo Carbono (Plano ABC/ABC+), a principal política pública do país dedicada ao desenvolvimento da agricultura sustentável no Brasil. 

O Plano preconiza práticas agropecuárias e florestais mais eficientes, com aumento de renda para o produtor, em seis áreas: 

Recuperação de pastagens degradadas: com o manejo adequado, o solo passa a acumular carbono reduzindo em pelo menos 60% a emissão de CO₂ no sistema de produção. A quantidade de biomassa produzida cresce e, consequentemente, permite aumentar a quantidade de cabeças de gado por hectare. É também dinheiro no bolso do produtor!

Integração lavoura-pecuária-floresta e sistemas agroflorestais: É o famoso “dois coelhos numa cajadada só”, com duas ou mais atividades integradas em uma mesma área. O alto teor de matéria orgânica é um dos principais benefícios dos sistemas integrados, uma vez que melhora as condições físicas, químicas e biológicas do solo;

Plantio direto na palha: visam conservar o solo e sua cobertura, evitando seu revolvimento excessivo, diferente do que ocorre no preparo tradicional do solo para o plantio que reduz os teores de matéria orgânica do solo, além de promover exposição e erosão. A cobertura de palha da safra anterior é mantida, o que contribui para a conservação do solo e da água, aumento da eficiência da adubação, incremento do conteúdo de matéria orgânica do solo, redução do uso de agrotóxicos e do consumo de energia fóssil, já que a exigência de máquinas e implementos agrícolas é menor; 

Substituição de fertilizantes nitrogenados pela fixação biológica do nitrogênio (FBN) na produção de leguminosas (como, por exemplo, a soja e o feijão), além de outras espécies. A utilização da inoculação dos microorganimos fixadores resulta em uma economia anual com fertilizantes em torno de US$ 7 bilhões.

Plantio de florestas comerciais;

Tratamento de dejetos animais: Os processos de biodigestão e compostagem já são conhecidos e proporcionam a redução de custos de produção, evitam o consumo de energia, insumos químicos e diminuem os riscos ambientais, reduzindo a emissão de GEEs e gerando energia por meio da produção de biogás.

Somadas, as ações do Plano ABC podem cumprir ou, até mesmo, superar a meta de redução em emissões de GEE de 133 milhões a 166 milhões de toneladas de CO₂ eq., previstas na lei da Política Nacional sobre Mudança do Clima, de 2019. Acho importante destacar que a sustentabilidade é sustentada por um tripé: ecologicamente correto, economicamente viável e socialmente justo! E nós consumidores temos que valorizar (com o nosso poder de compra) tais iniciativas! 


“Se o campo não roça, ceis não almoça!” E as mudanças climáticas poderão dificultar um cadim a disponibilidade de alimentos nos mercados!

Camila Porto

Camila Porto é engenheira agrônoma formada pela Universidade Federal de Viçosa. Atua na área rural desde 2014, diretamente com agricultores e em constante diálogo com instituições voltadas à pesquisa, assistência técnica e extensão rural como a Emater e Embrapa. Atualmente faz parte do grupo técnico agrícola da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Nova Friburgo e desde 2021 produz e apresenta o programa Zoom Rural na TV ZOOM.

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