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O campo também é energia

Em meados do ano passado foi publicado o Balanço Energético Nacional – BEN, que documenta e divulga, anualmente, extensa pesquisa e a contabilidade sobre a oferta e consumo de energia no Brasil, contemplando as atividades de extração de recursos energéticos primários (Petróleo, Gás natural, Energia hidráulica, biomassa, etc.), sua conversão em formas secundárias, a importação e exportação, a distribuição e o uso final da energia, tendo por base o ano de 2022. 

O balanço divulgou que a matriz energética brasileira se manteve em um patamar renovável de 47,4%, muito superior ao observado no resto do mundo! 

O que não é novidade né? Mais de metade da energia da União Europeia é importada — sobretudo combustíveis fósseis como o petróleo e o gás natural. A energia nuclear representa outros 13%, enquanto que a de fonte renovável, que está cada vez mais popular, corresponde a pouco mais de 15%. 

A emissão per capita brasileira, em 2020, foi de 1,9 toneladas de CO², enquanto que nos Estados Unidos 12,9 toneladas e a Europa 5,2.

Outro dado apresentado demonstra o potencial que o Brasil tem, em relação ao resto do mundo, quando falamos em energia verde. Para se produzir um MWh (Megawatt-hora) na China são emitidos 692,4 kg de CO², aqui no Brasil seria possível produzir oito MWh emitindo a mesma quantidade de CO². A eficiência brasileira é 4 vezes maior que a dos Estados Unidos e três vezes a da Europa.

Quem usa energia no Brasil? E o que isso tem a ver com o agro? 

O setor de transportes é quem abocanhou maior fatia da energia produzida, 33%. Desse consumo apenas 21,5% vem de fontes renováveis como o biodiesel (4,6%) e o etanol (16,9%), com 30,4 milhões de metros cúbicos consumidos em 2022. Logo atrás vem a indústria com 32% e o bagaço de cana correspondeu a 18,3% dentre as fontes energéticas utilizadas na indústria. A lenha representou 8,9%, o carvão vegetal 4,5% e a lixívia (ou licor negro, um derivado da madeira) 9,2%.. As residências consumiram 10,7% e a agropecuária 4,8%. 

Com isso a bioeletricidade atingiu 8,2% de participação na geração de eletricidade em 2022 sendo composta majoritariamente de bagaço de cana e lixívia.

“Do boi se aproveita tudo, até o berro.”

 E assim também acontece com a cana de açúcar! O Etanol, o mais conhecido, entre as fontes de energia limpa é obtido a partir da fermentação da cana de açúcar. O bagaço da cana, resíduo da produção do etanol, também é utilizado como fonte de energia, através da incineração. A capacidade de geração a biomassa de cana atingiu 12,2 GW (GigaWatt) em setembro de 2022.  As cinzas ainda são ricas em nutrientes, principalmente o potássio e é direcionado como adubo para as plantações. 

O Biodiesel que possui como principal matéria prima o óleo de soja, da palma e o sebo bovino, possui também a pespecitiva de ser produzido a partir de diferentes matérias-primas, fortalecendo as potencialidades regionais. Em 2021 foram produzidos 6,8 bilhões de litros pela indústria nacional. 

E existe ainda o Biogás, uma fonte energética produzida por bactérias atuantes na decomposição de matéria orgânica, resíduos agrícolas, urbanos, industriais, florestais entre outros. 

Já está provado que o Brasil (e o agro) se destaca positivamente no ranking de oportunidades de transição energética, ficando atrás apenas da Noruega. O país é destaque em segurança energética, possui uma matriz energética diversificada, na qual biocombustíveis como o etanol contribuem fortemente para a redução da emissão dos gases de efeito estufa. Mas é preciso avançar nesse tema, formular de políticas públicas para incentivo, definir as diretrizes estratégicas, investimentos e estratégias de negócio. 

Existe um outro relatório que contribui para isso: O PDE 32. O Plano Decenal de Expansão de Energia indica as perspectivas da expansão do setor de energia para os próximos 10 anos, com horizonte até 2032. O planejamento é elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) com o apoio das equipes do Ministério de Minas e Energia. Esse plano subsidia as decisões de política energética e fornece ao mercado informações que permitem a análise do desenvolvimento do sistema elétrico em diversos cenários futuros possíveis.

A estimativa é de que o etanol de cana-de-açúcar mantenha grande participação na oferta total: 36,1 bilhões de litros em 2032 a partir da cana (26,6 bilhões em 2021). O etanol de milho apresenta grande crescimento no período: 9,1 bilhões de litros em 2032 a partir do cereal (3,3 bilhões em 2021).

E a união entre o setor público e privado é crucial para isso! Algumas políticas públicas são responsáveis pelo aumento da produção e pelo avanço da transição energética como: a adição obrigatória de metanol anidro na gasolina, a adição obrigatória de biodiesel no Diesel B e a diferenciação tributária entre os combustíveis. 

Com foco na redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) do setor de transportes no Brasil, o Governo Federal criou a Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), em 2019, que  estimula o ganho de eficiência ambiental do setor produtivo de biocombustível, que se tornará cada vez mais limpo e sustentável. E não é só pensar em negócios sustentáveis, mas pensar na sustentabilidade como negócio! As usinas são certificadas de acordo com sua performance energética e ambiental e a partir de então poderão emitir créditos de descarbonização (CBio$) para serem comercializados na bolsa de valores.


E o que eu e você podemos fazer para contribuir? 

A União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), que representa as usinas de açúcar e etanol, lançou no final de janeiro  uma campanha para incentivar o consumo do biocombustível no país, buscando acelerar a substituição dos combustíveis fósseis por biocombustíveis. Entre o lançamento dos motores flex, em março de 2003, e o fim de 2023, o consumo de etanol no Brasil evitou a emissão de 662 milhões de toneladas de CO². 

Então, a próxima vez que for abastecer complete o tanque com etanol (e cobre do poder público políticas públicas de incentivo à produção)! 

E lembre-se, se o campo não roça ceis não almoça e também “cumplica” nosso setor energético! 

Camila Porto

Camila Porto é engenheira agrônoma formada pela Universidade Federal de Viçosa. Atua na área rural desde 2014, diretamente com agricultores e em constante diálogo com instituições voltadas à pesquisa, assistência técnica e extensão rural como a Emater e Embrapa. Atualmente faz parte do grupo técnico agrícola da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Nova Friburgo e desde 2021 produz e apresenta o programa Zoom Rural na TV ZOOM.

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