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Iniciado o julgamento de Rodrigo Marotti acusado de duplo feminicídio ocorrido em 2019

  • fevereiro 8, 2022
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Na manhã de hoje, 08, no fórum de Nova Friburgo, foi iniciado o julgamento de Rodrigo Marotti. O caso de duplo feminicídio aconteceu em outubro de 2019, quando

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Iniciado o julgamento de Rodrigo Marotti acusado de duplo feminicídio ocorrido em 2019

Na manhã de hoje, 08, no fórum de Nova Friburgo, foi iniciado o julgamento de Rodrigo Marotti. O caso de duplo feminicídio aconteceu em outubro de 2019, quando ele foi acusado de atear fogo em uma casa onde estavam sua ex-companheira, Alessandra Vaz, e uma amiga, Daniela Mousinho.

Em frente ao fórum, diversos manifestantes marcaram presença pedindo justiça pela vida das duas mulheres, com pena máxima ao acusado, e também levantando a bandeira da luta por todas que um dia sofreram agressões causadas por homens.

Imagem: Isabella Chaboudt, repórter TV Zoom.

O julgamento

A equipe do Zoom TV Jornal está presente no julgamento trazendo a cobertura dos depoimentos.

Testemunhas de acusação

Depoimento 1:

“Todo dia eu acordo, olho para aquela casa e penso na moça toda queimada”, diz ex-vizinho de Rodrigo Marotti.

O vizinho estava em casa, por volta das 22h, quando escutou os gritos de socorro e, junto com o irmão, encontrou uma moça pedindo ajuda pelo basculante do banheiro. De acordo com a testemunha, quando uma das mulheres conseguiu sair do banheiro estava queimada, pediu um copo d’água e falou que o seu namorado, Rodrigo, colocou fogo em um colchão na porta do banheiro, roubou seu carro e foi embora.

Depoimento 2:

Outra depoente, desta vez uma vizinha, afirma que, quando chegou ao local, elas já haviam saído da casa e estavam na calçada com aparências de queimaduras. A mulher destaca que Alessandra disse que Rodrigo teria feito isso porque ela não o queria mais. Ela também havia demonstrado preocupação em Rodrigo atear fogo no negócio que tinham juntos.

Depoimento 3:

“Socorro, socorro, socorro! O Rodrigo quer me matar.” – foi o que ouviu o homem, proprietário da casa que estavam Alessandra e Daniela.

Em depoimento, ele ainda relatou que acordou como se fosse um pesadelo. Disse ter levantado, saído da casa e viu o fogo saindo pela janela do banheiro. Ele desceu pelo jardim e relatou que a Alessandra ainda falou com ele. A testemunha disse ter tentado apagar o fogo com um balde de água, porém, “parecia que tinha jogado gasolina.

Depoimento 4:

O policial militar que atendeu a ocorrência de incêndio com feridos disse que quando chegou ao local uma das vítimas (Daniela) estava em choque, sem dizer nada, já a outra (Alessandra) gritava muito. “Estavam agonizando, a pele lembrava uma meia calça desfiando”, afirma o PM. Ele diz não saber se Rodrigo teria as trancado no banheiro ou se elas se trancaram por medo. Elas diziam que ele estava com combustível. Destaca ainda haver relatos de uma discussão antes do ocorrido.

“Quando o bombeiro chegou e jogou o primeiro jato de água, a casa começou a desabar. Parecia cena de filme mesmo”, relata o policial.

Depoimento 5:

Já o outro agente que estava de serviço na DPO de Lumiar relata ter recebido um chamado para ir até a loja de Alessandra, pois Rodrigo estaria indo para a loja de São Pedro da Serra, após ter colocado fogo na casa. O criminoso não apareceu, buscam foram feitas e nada encontrado. No dia seguinte, por volta de 6h da manhã, Rodrigo tocou a campainha da unidade e se entregou, mas não disse porque colocou fogo no colchão. Ele recebeu voz de prisão e foi conduzido a 151° DP.

Depoimento 6:

“De todos os casos que participei, esse foi um que me marcou muito”, disse o policial civil que ajudou nas investigações. Ele já estava em casa, quando recebeu o contato do plantonista que passou a situação. A delegada foi acionada e os dois se inteiraram dos fatos, passando a noite realizando buscas na região Mury e Centro. Quando Rodrigo se entregou, o policial foi ao hospital para saber a condição das vítimas e, posteriormente, seguiu ao local do crime e conversou com testemunhas.

“Rodrigo chegou a me dizer que havia perdido a cabeça que eles tinham uma sociedade que ele queria desfazer. Ele disse que houve uma discussão, as vítimas correram e se trancaram no banheiro e ele ateou fogo em um colchão na porta do banheiro” – destaca o policial sobre sua conversa com o criminoso.

Depoimento 7:

“Eu acho que elas estavam com mais medo dele (Rodrigo) do que do fogo”, foi o que disse um dos vizinhos da vítima. 

Ele afirma que ouviu um barulho, e quando saiu, seu irmão já estava no quintal e da rua já dava pra ver o fogo, foi quando viu que uma das mulheres estava com o braço pra fora da janela do banheiro pedindo por ajuda. Em seguida um carro estourou o portão, era Rodrigo fugindo com o veículo de Alessandra. Ao chegar mais perto, a testemunha relata que as vítimas já haviam conseguido sair do local em chamas. “Uma delas passou por mim com o cabelo pegando fogo

Em outro momento, o advogado de defesa questiona: “O senhor chegou a sentir cheiro de algum combustível?” E ela respondeu: “Senti cheiro de carne queimada”.

Depoimento 8:

A oitava testemunha de acusação disse que aquela noite estava deitada e escutou seu cunhado gritando por ajuda, foi quando avistou Alessandra pedindo socorro pela janela do banheiro e falando para tomar cuidado, pois Rodrigo estava armado. “Meu cunhado foi ajudar e ficou com pele e cabelo dela agarrados no corpo”. A testemunha ainda afirma que Rodrigo pegou o carro de Alessandra e fugiu em alta velocidade.

“Para mim foi uma surpresa, Alessandra e Rodrigo pareciam se dar bem” afirmou.

Depoimento 9:

“Eu sabia da personalidade de truculência do Rodrigo”. O nono depoimento foi o da irmã de Alessandra. Ela disse que trabalhava com a irmã, tomava conta da loja e conversava frequentemente sobre o negócio e sobre a vida pessoal. Segundo ela, quando soube da entrada da cunhada na empresa, Rodrigo se tornou extremamente autoritário e arrogante e por isso não mantinham contato. 

Além disso, Alessandra vinha demonstrando insatisfação com o trabalho de Rodrigo, ele era responsável pela produção e faltava constantemente, mas sempre tirava dinheiro. A irmã ainda diz que o acusado e Alessandra estavam separados há aproximadamente oito meses e que no dia do crime conversou com Alessandra, “Ela tinha tomado uma decisão e feito proposta para comprar a parte dele na empresa”. Mais tarde, a irmã, que mora em Poços de Caldas (MG), recebeu a notícia do crime através do marido.

“Eu estava indo abrir a loja e meu marido me ligou para dar a notícia. Foi a pior notícia que eu recebi na minha vida… Mesmo sem saber da gravidade, foi muito difícil porque eu não sabia como falar para minha mãe que a Alessandra foi queimada… Ele destruiu a minha irmã… Se eu soubesse da gravidade, talvez não teria entrado na UTI, foi a pior coisa que eu vi na minha vida… A única parte do corpo que não estava enfaixada era o pescoço, os olhos e os dedos. Essa cena nunca mais saiu da minha mente… Ele não deu 1% de chance dela viver” relata a irmã.

Depoimento 10:

“O Rodrigo está me ameaçando de morte e eu estou com muito medo”

Ela encontrou com a vítima horas antes do crime e, ao se despedir com um abraço, fez o desabafo. Segundo a testemunha, Alessandra falava que o relacionamento não estava mais dando certo e que pretendia terminar, mas havia uma ligação muito forte e por isso era muito difícil.

Em outra ocasião, há cerca de dois anos, Alessandra apareceu com o pulso roxo, o que foi questionado pela amiga, mas não teve resposta. Ela ainda relata os desabafos da amiga com relação ao uso de drogas e a relação conturbada que atravessava.

“Rodrigo trabalhava muito, mas tinha problemas com consumo de drogas. Costumava sumir e aparecer dois ou três dias depois, o que abalava muito a relação”.

Alessandra ainda dizia que não estava bem, mas não conseguia terminar, o que mudou há cerca de quatro meses antes do crime, quando houve um rompimento.

Depoimento 11:

Um prestador de serviços da empresa na qual Rodrigo e Alessandra eram sócios relata que tinha contato mais profissional com o casal. Ele confirmou os relatos da vítima de que seu companheiro usava drogas e que a relação não estava indo bem. Além disso, ele também confirma os relatos de Alessandra sobre um dia dos pais na casa de Rodrigo em que ele e a vítima tiveram uma forte discussão na frente de familiares.

Depoimento 12:

“A mim, só chegou medo, pânico e preocupação com ameaças”, foi o que disse o sócio investidor da empresa em que o casal era sócio. 

Embora tivessem uma relação mais profissional, a testemunha relata que Rodrigo tinha um comportamento agitado e temerário, chegando ao nível de ameaças, principalmente após o término. 

Em um dos desabafos, Alessandra afirmou que Rodrigo a traía, e que após o término, ela pediu ajuda para formar maioria e retirar o ex-companheiro da sociedade. Sabendo da situação, houve uma briga entre os sócios e o acusado ficou furioso.

“Disse que não sairia barato a retirada dele da sociedade.”

Depoimento 13:

“Nas semanas que antecederam o crime, Alessandra falava somente o que era indispensável com Rodrigo”

A testemunha prestava serviços para a empresa de Alessandra há alguns meses e estavam com novos projetos, que não incluíam Rodrigo. Com o sucesso do projeto, a testemunha passou a trabalhar na parte de produção do negócio, o que gerou ruídos. Em uma reunião, em setembro, a testemunha falou sobre a situação de Rodrigo, e Alessandra disse que sabia que daria problema. Alessandra pediu à testemunha para conversar com Rodrigo.

Na mesma época surgiu a oportunidade de participar de uma feira de negócios no Rio de Janeiro, e Alessandra já queria levar peças do novo projeto, excluindo Rodrigo da situação. Rodrigo ateou fogo em Alessandra no dia em que iriam viajar para participar da feira.

Testemunhas de defesa

Depoimento 14: 

“Na maior parte entre 2019, a gente teve uma relação mais de amizade”

Disse a testemunha de defesa, com quem Rodrigo teve um relacionamento. Ela afirmou que 

sabia que o Rodrigo e Alessandra estavam rompendo e dando fim a sociedade, que não sabia do uso de drogas e que Rodrigo queria terminar o relacionamento, mas “ela tentava reatar a situação”

Depoimento 15: 

“Rodrigo não é uma pessoa agressiva. É um cara trabalhador.”

Desta maneira o réu foi descrito pela testemunha, uma ex-namorada com quem manteve relacionamento por 13 anos. Ela afirma que só tinha contato com Rodrigo para falar da guarda compartilhada do cachorro.

Eles ainda mantinham um grupo de amigos em comum devido ao tempo juntos. Nesse grupo, ele dizia que Alessandra tinha dificuldade de aceitar o fim do relacionamento e que soube pela mãe de Rodrigo que Alessandra o agredia. No dia dos pais, Alessandra teria brigado com ele na frente da avó, da mãe dele, da sobrinha.

Ela finaliza dizendo que Rodrigo sempre foi um menino bom, “excelente namorado, excelente marido” 

“Tô aqui porque nunca tive nada pra falar (de ruim) do Rodrigo”

Depoimento 16:

“Jamais viria aqui se achasse que o Rodrigo fez alguma coisa.”

Com uma breve fala, uma ex-sogra do acusado afirmou que nunca soube do envolvimento dele com drogas e que nunca viu atitudes agressivas do ex-genro.

“Não é fácil pra família das meninas, mas também não é fácil pra família dele.” 

Depoimento 17: 

“Não mantinham mais uma relação efetiva, era só trabalhista”

Disse o irmão de Rodrigo durante seu depoimento. Ele afirma que Alessandra era uma pessoa possessiva e não gostava que o acusado encontrasse outras pessoas.

“Se Rodrigo não fosse dela (Alessandra), não seria de mais ninguém” O irmão ouviu ela falando isso duas vezes, uma no dia dos pais e outra no estúdio de treinamento do irmão em uma briga que ele presenciou. “Agressão física só uma vez”

Dia dos Pais – agosto de 2019 – Alessandra viu que Rodrigo estava se relacionando com uma pessoa do Rio e ela ligou pra essa pessoa na frente de toda a família dele e repetindo que “se Rodrigo não fosse dela, não seria de mais ninguém” 

A testemunha termina dizendo que não se recorda de momento de raiva do irmão, salvo jogando bola.

Depoimento 18:

“Um dia foi na minha casa e ameaçou ele, falando que ia acabar com a vida dele”

Disse a décima oitava e última testemunha, a mãe do Rodrigo. Ela diz que o filho não tinha comportamento agressivo. “Nunca foi. Sempre foi um rapaz trabalhador, dedicado, carinhoso com a família e com a Alessandra também” 

Mesmo depois da separação deles, Rodrigo continuou uma pessoa tranquila. Ela afirma que todas as vezes que presenciou, era Alessandra quem ameaçava Rodrigo. 

Um dia marcante foi no dia dos pais 2019 “Nesse dia a nossa família tava junto…. Ela tava sozinha e foi….Do nada pegou o celular dele e começou a bater nele. Tentavam tirar ela e ela voltava…Falava que ia acabar da vida dele e que se ele não fosse dela não seria de mais ninguém… Depois de ir embora, pulou o muro e voltou para ameaçar ele”

Ela diz que neste mesmo dia, duas pessoas tentaram tirar Alessandra de cima do Rodrigo e “estava difícil, pois não queria machucar ela. Nesse dia dos pais agrediu umas três vezes”

“Ela mesmo se batia pra botar marca e falar que ele batia nela. Ela era muito ciumenta” 

Em seguida começa a ser feito o interrogatório do interrogatório do réu, acusação, defesa, réplica e tréplica.

Por Isabella Chaboudt e Juan Victor.

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