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Pardonnez-moi França, mas galo não deve cantar em terreiro alheio! 

  • novembro 27, 2024
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Recentemente, o Carrefour e a Danone tomaram medidas que suscitaram debates sobre sustentabilidade, comércio internacional e a imagem do agronegócio brasileiro no exterior.

Pardonnez-moi França, mas galo não deve cantar em terreiro alheio! 

Carrefour e o Boicote à Carne do Mercosul

Em novembro de 2024, Alexandre Bompard, CEO global do Carrefour, anunciou que a rede deixaria de comercializar carne proveniente dos países do Mercosul — Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai — em suas lojas na França. A decisão foi justificada como uma resposta às preocupações dos agricultores franceses sobre o acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul, que, segundo eles, poderia inundar o mercado francês com carne que não atende aos padrões europeus. 

A reação no Brasil foi imediata. Frigoríficos como JBS e Marfrig suspenderam o fornecimento de carne para as lojas do Carrefour no país, incluindo a rede Atacadão. O Ministério da Agricultura classificou a medida como protecionista e sem base técnica, destacando que a pecuária brasileira atende aos padrões mais rigorosos do mundo, inclusive os da União Europeia. 

O Brasil está na liderança mundial em vários setores. No mercado dasoja, por exemplo o Brasil corresponde à 40% da produção mundial. Os produtores de soja,  inclusive apresentaram uma belíssima recuperação, mesmo com o atraso no início do plantio devido à faltade chuva, houve um incremento de 9,6% na produtividade. Outros exemplos: Aproximadamente 50% de do açúcar produzido no mundo; 30% do café; 25% da carne bovina; ⅓ de frango e 30% de milho. 

No 2º boletim da safra 2024/25, a Conab estimou a produção de milho em 119,8 milhões de toneladas, 3,6% superior à de 2023/24. A área, por sua vez, deve ser menor, totalizando 21 milhões de ha. Mais produção em menor área, isso é uma resposta da adoção de práticas O Brasil também superou os Estados Unidos na produção e exportação de algodão. Pela Conab, 3,2 milhões de toneladas de algodão devem ser produzidas no Brasil em 2024/25. A cada 10 copos de suco de laranja bebido na Europa, 8 são feitos com laranjas brasileiras. Logo, a Europa não pode dizer que não atingimos seus altos padrões. 

Diante da pressão, Bompard enviou uma carta ao ministro da Agricultura brasileiro, Carlos Fávaro, pedindo desculpas pelas declarações e reafirmando a confiança na qualidade da carne brasileira. Com isso, os frigoríficos começaram a retomar o fornecimento para as lojas do grupo no Brasil. O documento foi entregue pelo embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain, ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e a assessores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ressalta que o Brasil sempre respeitou as regras, ao longo dos 50 anos negociando com o agro brasileiro. 

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Danone e a Polêmica com a Soja Brasileira

Em outubro de 2024, a Danone anunciou que deixaria de comprar soja do Brasil, optando por fornecedores asiáticos. A decisão foi atribuída à preparação para a nova regulamentação da União Europeia contra o desmatamento, que exige que as empresas comprovem que suas commodities não são originárias de áreas desmatadas. 

A Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) criticou a medida, classificando-a como discriminatória e baseada em desconhecimento das práticas agrícolas brasileiras. O Ministério da Agricultura também se manifestou, considerando a decisão arbitrária e punitiva. 

Posteriormente, a Danone do Brasil negou que tivesse interrompido a compra de soja brasileira, afirmando que continua adquirindo o grão em conformidade com as regulamentações locais e internacionais. 

A crítica vindo novamente da França, que por sua vez, possui uma agricultura altamente mecanizada e subsidiada, com foco em produtos de alto valor agregado. 

As recentes ações de empresas francesas refletem preocupações com a sustentabilidade e a concorrência no mercado europeu. No entanto, é fundamental que tais medidas sejam baseadas em critérios técnicos e não sirvam como barreiras comerciais disfarçadas, prejudicando relações comerciais e a imagem do agronegócio brasileiro.

grafico de Visualizing How the G20 Generates Electricity

Brasil e Energia

Uma pesquisa da Ember mostrou que o Brasil é líder em uso de energia elétrica renovável, entre os 19 países do G20 e União Européia, já que 89% de todo o seu uso de 2023 vêm de fontes limpas, como hidrelétricas, eólica, solar e bioenergia.

A marca impressionante fica muito acima de outras nações que se dizem interessadas na preservação do meio ambiente, como a França, por exemplo.

O país sede da Carrefour, gerido por Macron ocupa apenas o 11º lugar. Do total, 74% da energia elétrica dos franceses vem de fontes não renováveis, como petróleo, carvão mineral, gás natural e nuclear.

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O Brasil e a Sustentabilidade 

O Brasil anunciou nova meta climática por meio da 3ª geração da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, sigla em inglês) na COP29, se comprometendo a reduzir entre 59% e 67% das emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2035, tendo como base o ano de 2025. Isso representa uma redução entre 850 mi e 1,0 bi de t de CO₂ equivalente nos próximos 11 anos. Além disso, o país reassume a meta de neutralidade climática até 2050. Dados sobre a redução do desmatamento também foram destaque: na Amazônia, o desmatamento caiu 30% entre agosto de 2024 a julho de 2024, a maior redução em 15 anos, enquanto no Cerrado houve uma queda de 25,7%, a primeira redução em 5 anos.

O agronegócio brasileiro é considerado o mais sustentável do mundo, segundo uma pesquisa da consultoria McKinsey. Os produtores brasileiros têm adotado práticas avançadas que são desafios em outros países. Entre as principais estão:

Plantio direto: aplicado em mais de 80% das fazendas brasileiras, liderando mundialmente; Culturas de cobertura: presentes em quase 60% das propriedades; Fertilizantes por pouco mais de 50% dos produtores; Produtos biológicos: empregados por 55% dos agricultores no controle de pragas e doenças.

Além disso, os sistemas integrados, como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), já abrangem 18 milhões de hectares no país, com previsão de dobrar até 2030.

É essencial que o Brasil continue aprimorando suas práticas agrícolas, garantindo a sustentabilidade e a conformidade com as exigências internacionais, ao mesmo tempo em que defende seus interesses comerciais e a reputação de seus produtos no mercado global, se desfazendom da “Síndrome do Vira-lata”. E internamente também, afinal, ⅓ do nosso PIB vem do agro! 

Se o campo não planta, a cidade (independente de onde esteja) não janta! 

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