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Estudar e fazer cinema: o momento é o agora!

Vou abordar alguns pensamentos sobre a importância de estudar cinema, praticar o audiovisual ou tornar-se um espectador assíduo dos filmes. Através da educação escolar, podemos conhecer melhor o mundo e ampliar nossos horizontes. No entanto, algo continua a me instigar: a possibilidade de conhecer e ampliar ainda mais este mundo através do audiovisual. Hoje em dia, não é possível pensarmos em um mundo sem a presença do audiovisual. Em convergência com essa realidade, qualquer curso ou graduação tem como pretensão a formação continuada dos jovens no âmbito das linguagens visuais, naquilo que lhes é peculiar em congruência com técnica, linguagem e conteúdo.

Entendemos o quanto é fundamental um mundo de oportunidades ampliadas, no qual os jovens vivenciem o audiovisual como elemento de transformação, contribuindo continuamente para o desenvolvimento da criatividade, responsabilidade e solidariedade. Além disso, o desenvolvimento do mercado audiovisual e o incentivo à formação de jovens têm como objetivo promover realizações profissionais e proporcionar uma independência mais sólida, permitindo-lhes expressar sua visão de mundo através do audiovisual e compartilhar cultura em toda sua diversidade e complexidade.

As produções audiovisuais nos fornecem conteúdo valioso, construindo novas formas de aprendizado, quebrando antigos paradigmas e propondo mudanças significativas na maneira como nos relacionamos com o audiovisual e a educação escolar. Isso é fundamental e urgente.

Acredito que os indivíduos possam se desenvolver cada vez melhor e de forma mais intensa na relação com o mundo e consigo mesmos por meio do cinema. A valorização das produções culturais, especificamente o audiovisual, e sua utilização como meio legítimo de aprendizado expressam o mundo material ou imaterial que as inspira.

O psicólogo cognitivo e educacional Howard Gardner, ligado à Universidade de Harvard, é conhecido especialmente por sua teoria das inteligências múltiplas, que representa uma quebra de paradigma na forma como lidamos com o mundo ao nosso redor e na capacidade de construir conhecimento. A partir dessa perspectiva, o audiovisual tem como objetivo capturar as crenças e valores vigentes e construir um mundo que esteja um passo à frente, permitindo-nos refletir sobre nossas ações.

 Howard Gardner

A arte, de um modo geral (incluindo arquitetura, literatura, música, dança, cinema e teatro), e as artes plásticas (escultura, pintura e desenho), de modo especial, referem-se ao desenvolvimento de formas simbólicas, algo que vem sendo praticado pelos seres humanos desde a idade mais remota. Arte e história estão intimamente entrelaçadas. A história, isto é, nosso conjunto de experiências sociais, econômicas e culturais, é atravessada pelas artes, que existem em razão de uma demanda por constituição de sentido, por uma necessidade de compreensão de nossa situação no mundo.

O homem, por ser um ser histórico e não meramente natural, lança-se à produção simbólica, sendo as artes a etapa mais complexa desse processo. O início do conhecimento reside na ação do sujeito sobre o objeto, ou seja, o conhecimento humano se constrói na interação entre homem e meio, sujeito e objeto (Jean Piaget – 1896/1980, Suíça). O mundo é algo produzido pelo homem diante de si mesmo e desempenha um papel fundamental na criação de condições de expressão para a pessoa, cuja tarefa vital consiste no pleno desenvolvimento de seu potencial inerente. Conhecer implica em operar sobre o real e transformá-lo para compreendê-lo, e a força do cinema é capaz de marcar gerações através de sua produção cultural.

Assistir filmes

Ao entrar em contato com os filmes, nos deparamos com um tempo à frente da consciência que temos de nós mesmos e do mundo. A ideia é que o efeito desestabilizador dos filmes se prolongue e consiga se desenvolver para uma compreensão posterior, algo transformador. O contato com algo que nos afeta, mas ao mesmo tempo nos escapa da total compreensão, possibilita a construção de novos caminhos de pensamento, uma vez que somos deslocados e provocados. O encontro com a arte deve sempre desestabilizar de alguma forma e nos levar além.

Quentin Tarantino trabalhando numa vídeo locadora na Califórnia em 1985.

Muitas vezes, a ação de alcançar o objetivo de que alguém seja tocado é muito difícil, por isso os encontros através do Cineclube tornam-se fundamentais para desenvolver a aproximação com a arte e seus respectivos conteúdos. Dessa maneira, a bagagem cultural de cada indivíduo enriquece o encontro e permite alcançar um novo patamar na relação entre os filmes e a vida. A principal motivação para realizar um Cineclube é vislumbrar o contato com obras diferentes das usualmente apresentadas pela televisão ou cinemas comerciais.

Os conteúdos dos filmes podem ser abordados em seus aspectos artísticos: visão original, objetivos, tom e relevância. Sua adequação ao público: identificação do público-alvo, incluindo referências etárias, culturais e socioeconômicas dos possíveis espectadores. Perfil dos personagens: detalhamento do perfil físico, psicológico e biográfico. Cenários e Locações: identificação dos principais cenários e locações, posicionamento no tempo e espaço em que o filme nos apresenta. Descrição dos personagens e detalhamento dos procedimentos narrativos, e sua relação com os gêneros e subgêneros dramáticos, incluindo possíveis referências a outras obras audiovisuais ou artísticas. Linguagem e procedimentos narrativos ao detalhar sua linguagem audiovisual e procedimentos narrativos.

Cineclube

Podemos lidar com filmes de duas maneiras: compreendendo a técnica como entretenimento conservador, desvinculado de sua função social emancipatória, ou reconhecendo-a como um instrumento para enriquecer a experiência do sujeito com o mundo e proporcionar novas concepções. Entender a diferença entre esses pontos permite desconstruir o pensamento dominante sobre o cinema e propor novas reflexões sobre a vida.

Desta maneira, a iniciativa do Cineclube proporciona a integração da técnica do audiovisual com a criatividade, capacitando os sujeitos a utilizar a arte para transformar a cidade e impulsionar a economia.

Por que produzir filmes?

O audiovisual é parte de um processo criativo que envolve o coletivo e a troca de ideias. No audiovisual, é possível trabalhar e aprender em equipe, conhecer diversos departamentos, diversas funções e milhares de pessoas que pensam de forma diferente de você. Ao defender uma causa, um sentimento ou uma ideia, nos aventuramos na profissão e temos o privilégio de trabalhar em grupo.

Para fazer filmes, é preciso apenas uma ideia, uma câmera e alguns amigos. Os cursos e as graduações precisam existir para que possamos aprender com os outros, conversar, trocar ideias, discutir filmes, diretores, como fazer e fazer mais cinema. No cinema, ter uma super-câmera não é sinônimo de ter um bom filme; 4k não é sinônimo de qualidade, mas sim de dinheiro e exclusão.

O audiovisual é a arte mágica que, se não estivermos felizes, não encontramos sua essência, seu fluxo, sua energia. Temos em mãos uma grande oportunidade de aprender a pensar e fazer cinema, já que cada pessoa tem um smartphone no bolso. É hora de errar, aprender, errar de novo e aprender mais. Poder aprender entre nós e na relação com outros professores, ter plena liberdade e enxergar o filme como um projeto permanentemente inacabado.

Zack Snyder filma ‘Snow Steam Iron’ no iPhone

Vamos juntos superar o status quo do audiovisual, buscando que o resultado seja o aprendizado de pensar e fazer cinema. Valorizando a linguagem e cultura de cada indivíduo, criando condições para que todos analisem seu contexto e contribuam para a cultura no processo coletivo.

No processo criativo dos filmes, podemos escolher entre dois caminhos na relação: a convivência ou o confronto. A convivência gera conflito, pois cada pessoa tem suas próprias ideias, mas a magia está em buscar convencer o outro a compartilhar o pensamento; é o consenso previamente estabelecido que deve ser alcançado. Já o confronto é a tentativa de anular a outra pessoa, buscando vencer nas relações humanas.

Leo Arturius

Graduado em Pedagogia e Cinema pela PUC-Rio, Leo Arturius assumiu a cadeira de direção em sete filmes, como produtor foram oito e outros sete como continuísta. Desde 2016 oferece cursos de roteiro e documentário na cidade de Nova Friburgo e, em 2017, obtive seu ápice profissional ao ter um filme selecionado no Festival de Cannes. A carreira teve uma guinada em 2019, começou a fazer exposição de fotografia sobre a cidade de Nova Friburgo. Friburguenses e cariocas já tiveram a oportunidade de entrar em contato com seu olhar de estrangeiro sobre a cidade serrana. Em 2023 assumiu a cadeira de professor no Colégio Nossa Senhora das Dores e Senai Nova Friburgo, no ano vigente retorna a atuação regular em produções e direção cinematográficas e ao cargo de produtor de conteúdo na TV Zoom.

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