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FERTILIZANTES: Seu lucro pode estar escorrendo pelas suas mãos…

Nos últimos nove anos, segundo os dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP), os preços dos fertilizantes mais utilizados na agricultura brasileira tiveram alta de mais de 200%, o que tem impactado diretamente nos custos da produção agrícola do país. Existem alguns fatores que são responsáveis por esse salto. Vamos debulhar essa dinâmica de mercado e pensar em alternativas para aumentar seu lucro! 

Primeiro, PORQUE adubar? 

Um dos objetivos de qualquer adubo é aumentar a disponibilidade de nutrientes para as plantas, enriquecendo os solos. Quando falamos de produzir algo, seja em qualquer ramo, precisamos fornecer os insumos necessários, as “matérias primas”. Mas como descreveu Pero Vaz de Caminha em 1500, “Nesta terra, em se plantando, tudo dá!”, e dá. Com eficiência produtiva, alta produtividade? Sabemos que além da água, luz solar e um substrato para fixar suas raízes, as plantas também precisam de nutrientes, e estes vêm do solo. 

Pois bem, nossos solos já contam com sua fertilidade natural, os nutrientes que são disponibilizados pela rocha da qual ele é formado, outros que são depositados por exemplo pelo escoamento das águas (nutrientes trazidos de outros solos), decomposição de matéria orgânica, etc. O suficiente para “alimentar” a vegetação que é característica daquele lugar, às plantas que são adaptadas e exigentes àquela situação. Temos por exemplo, no cerrado, a vegetação que consegue se desenvolver bem, apesar da toxicidade do alumínio presente grande quantidade nos solos.  

Porém as culturas agrícolas, muito frequentemente, são espécies cujo seu centro de origem se dá muito longe daqui! A soja e o arroz vem da Ásia, cana de açúcar, Oceania/norte da áfrica, outras culturas como o feijão e o milho das américas.  Além disso, para que a lavoura tenha uma boa produtividade, utiliza-se uma alta população de plantas, sendo ainda mais difícil a fertilidade natural do solo “alimentar” todas elas, de forma satisfatória, que permita que elas se desenvolvam e produzam sementes, frutos ou massa verde (a depender da espécie). 

Quando e quanto adubar também são perguntas que o produtor deve fazer! Existem diferentes tipos de fertilizantes, já que durante o seu desenvolvimento as plantas precisam de nutrientes diferentes! Por exemplo, na fase vegetativa (crescimento, produção de folhas) as plantas precisam de muito nitrogênio. Já na fase reprodutiva (floração) mais fósforo (que deve ser adicionado no plantio, para ser metabolizado à tempo) e o potássio, que ajuda no equilíbrio da água. E por aí vai…

Não existe receita de bolo! (Consulte sempre um agrônomo!). Outra pergunta importante a se fazer é a quantidade que se deve utilizar. Ela deve ser periodicamente analisada através das análises de solo! Lembra que falamos da fertilidade natural do solo? Vai depender também do que já foi colocado anteriormente, dos nutrientes que as plantas anteriores mais utilizam e quais elas devolvem ao solo.

 

Porque são tão caros?

A alta demanda (quase 70 milhões de hectares destinados à atividade agrícola do país) aliados à baixa fertilidade dos nossos solos foram responsáveis pelo consumo, em 2020, de mais de 30 milhões de toneladas de fertilizantes. A produção nacional de fertilizantes, neste mesmo ano, foi de apenas 8,2 milhões de toneladas. O que significa que somos muito dependentes da importação desse insumo. 

Segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA), mais de 70% dos fertilizantes usados na agricultura brasileira são importados, com destaque para alta dependência do Cloreto de Potássio (95%); Nitrogênio (80%) e Fosfato (60%).

Uma das consequências disso é que o preço dos fertilizantes (e outros insumos) acaba sendo atrelado às flutuações da principal moeda de câmbio: o dólar. Entretanto, não é somente o dólar que afeta essa dinâmica de preços, que vêm subindo desde o começo do ano de 2021. O “clima geopolítico” também interfere! 

Nos últimos meses, por exemplo, a interferência da crise sociopolítica da Bielorrúsia (Ucrânia e Rússia) ou ainda o fechamento das minas de potássio da Mosaic no Canadá, afetaram a comercialização e os preços dos fertilizantes potássicos no mundo inteiro. Essa interferência acontece porque eles controlam 80% da produção e distribuição mundial do Cloreto de Potássio (KCl). 

A guerra entre Israel e o grupo armado Hamas pode ter reflexos para os preços dos grãos no mercado internacional, e ainda pode resultar em valorização nos preços dos fertilizantes. No início do conflito, as cotações do petróleo subiram, diante do receio com uma possível restrição na oferta, já que a região está repleta de importantes atores do mercado que têm relações tensas com Israel. Isso pode trazer consequências para os custos de produção dos fertilizantes, sobretudo os nitrogenados. Além disso, opetróleo valorizado resulta em  fretes mais caros.

Israel é também o 6º principal fornecedor de fertilizantes ao Brasil, com um total de 1,2 milhão de toneladas e 4% de participação no total importado nos nove primeiros meses do ano, de 28,7 milhões de toneladas.

E porque o Brasil não produz?

Digamos que “o buraco é mais embaixo!” O potássio brasileiro forma-se a partir de uma rocha de nível de mineração muito mais difícil do que do leste Europeu e do Canadá, sendo assim, a logística do processo deverá deixar o produto nacional mais caro do que o importado. A Rússia tem as maiores reservas de gás natural do mundo e fornece cerca de 40% do gás natural utilizado pela Europa. Todo o sistema já existente, o tamanho das reservas e a logística já em curso fazem que seja impossível competir com o preço da ureia e outros produtos nitrogenados vindos de lá. 

E o que podemos fazer então? 


Uma das estratégias para alcançar a redução de custos dos fertilizantes é buscar por alternativas que substituam parcialmente ou totalmente os insumos importados. O remineralizador, ou “pó de rocha”, como é conhecido, é um resultado da moagem de rochas, entre elas basálticas, micaxisto e sienitos.É composto por potássio, silício, cálcio e magnésio, podendo substituir o NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) podendo suprir parte da necessidade nutricional das plantas através de um processo totalmente sustentável e que ainda aumenta as atividades do solo. 

Uma outra tendência é a utilização dos organominerais,  adubos orgânicos enriquecidos com nutrientes minerais. Eles contribuem com o aproveitamento de resíduos orgânicos de origem animal e vegetal, aumentando os teores de matéria orgânica do solo e como consequência a atividade da microbiota do solo. Em comparação aos fertilizantes minerais solúveis, apresentam um potencial químico reativo relativamente inferior, porém sua solubilização é gradativa no decorrer do período de desenvolvimento da cultura, quando a eficiência agronômica pode se tornar maior. Os nutrientes não são liberados “de uma vez”, correndo o risco de serem lixiviados, por exemplo. 

Esse é um dos pilares da produção agrícola e o produtor deve sempre procurar as melhores alternativas, afinal existem duas maneiras de se aumentar o lucro: ou você mantém o investimento e aumenta a produtividade ou mantém a produtividade e diminui o investimento. E é claro, a sustentabilidade perpassa pela sustentabilidade financeira do seu negócio! 

E lembre-se, se o campo não roça “ceis” não almoça!  

Camila Porto

Camila Porto é engenheira agrônoma formada pela Universidade Federal de Viçosa. Atua na área rural desde 2014, diretamente com agricultores e em constante diálogo com instituições voltadas à pesquisa, assistência técnica e extensão rural como a Emater e Embrapa. Atualmente faz parte do grupo técnico agrícola da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Nova Friburgo e desde 2021 produz e apresenta o programa Zoom Rural na TV ZOOM.

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