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Você lembra a melhor coisa de 2024? Aposto que não!

  • novembro 29, 2024
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Porque lembrar tragédia é fácil, mas felicidade o cérebro joga fora como recibo de supermercado.

Você lembra a melhor coisa de 2024? Aposto que não!

Numa típica reunião de pauta, uma pergunta aparentemente simples explodiu na mesa como um rojão em dia de final de campeonato no Maracanã: “Qual foi a melhor coisa de 2024?”. Estávamos em cinco jornalistas, e o silêncio que se seguiu foi tão desconfortável que dava para ouvir o tic-tac do relógio na parede. Ninguém, absolutamente ninguém, conseguiu soltar de imediato aquele exemplo matador de algo memorável, MUITO bom, que fizesse a gente suspirar e pensar: “Ah, que ano foi esse!”. 

E olha que desgraça a gente lembra fácil. Em dois segundos, qualquer um ali poderia listar meia dúzia de catástrofes, crises ou tragédias globais com precisão de calendário. Então, por que será que nossa memória parece equipada com um filtro que retém as más notícias como um imã e deixa escapar os momentos de felicidade como se fossem areia entre os dedos? 

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O Pessimismo Automático do Cérebro 

Não é que sejamos pessimistas por escolha própria. A psicologia explica: o cérebro humano tem uma inclinação natural para focar no negativo. O nome técnico disso é viés da negatividade, um mecanismo evolutivo que servia para nos manter vivos quando fugir de um leão era mais importante do que admirar um pôr do sol. Nosso cérebro está programado para dar mais atenção às ameaças, porque, no fim das contas, sobreviver sempre teve mais prioridade do que ser feliz. 

Só que a modernidade trouxe um problema: hoje, nossas “ameaças” não são predadores famintos, mas notícias ruins, crises e o caos generalizado que parece dominar o noticiário. Consumimos desgraças em doses cavalares, o que faz com que nossa percepção da realidade seja distorcida. É o famoso “se sangra, vende”, um princípio quase cruel do jornalismo que reflete a demanda do público: notícias ruins geram mais cliques, e cliques pagam contas. 

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Por Que Esquecemos as Coisas Boas? 

A memória não é um HD externo que grava tudo com precisão. Pelo contrário, ela é altamente seletiva e, na maioria das vezes, prioriza eventos emocionalmente intensos. No entanto, momentos felizes tendem a ser efêmeros e, muitas vezes, não tão intensos quanto as emoções negativas, que deixam marcas mais profundas. 

Isso explica por que é difícil lembrar de algo realmente marcante e positivo quando nos pedem um “highlight” do ano. Por outro lado, tragédias vêm à mente em um piscar de olhos. Um estudo publicado na Review of General Psychology mostrou que as pessoas processam e armazenam emoções negativas de maneira mais eficiente do que as positivas, o que contribui para essa memória seletiva. 

2024 Teve Coisas Boas, Você Só Não Lembra 

Curioso é que, apesar desse viés, coisas boas aconteceram em 2024. Perguntei para três inteligências artificiais, e, embora as respostas tenham sido genéricas, uma delas trouxe um fato interessante: o recorde global de energia renovável instalada. Não é pouca coisa. É uma conquista que afeta o futuro do planeta e deveria ser celebrada como um marco. 

Mas e no plano individual? A pergunta inicial não era sobre o mundo, e sim sobre você. O que aconteceu de bom na sua vida em 2024? Não vale dizer que “nada”, porque, se você está lendo este texto, já é uma prova de que algo deu certo. Mesmo que tenha sido um golzinho de placa no seu campeonato pessoal – um reencontro com amigos, um livro que mudou seu jeito de pensar ou um projeto que saiu do papel. 

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Como Fazer de 2025 um Ano Mais Memorável? 

A memória, assim como um músculo, pode ser treinada. Para isso, a psicologia positiva sugere práticas simples, como a gratidão ativa: registrar diariamente ou semanalmente três coisas boas que aconteceram. Pode ser num caderninho, numa planilha do Excel ou até na parede da sala da sua sogra – o importante é criar o hábito de reconhecer as pequenas vitórias. 

Além disso, os estudos mostram que reforçar memórias positivas ajuda a aumentar a resiliência emocional. Quando você treina seu cérebro para buscar e valorizar o que deu certo, fica mais preparado para lidar com os momentos difíceis, porque sabe que eles não definem sua trajetória. 

 

Então, Vamos Lembrar? 

O que 2024 teve de melhor? Talvez você não lembre agora, mas a culpa não é só sua. Nosso cérebro, nossos hábitos e até mesmo a sociedade nos empurram para um foco desproporcional no que deu errado. Mas isso pode – e deve – mudar. Em 2025, use melhor sua atenção. Anote os “gols” do dia, celebre suas pequenas vitórias e, quem sabe, no próximo ano, você não precise de silêncio para responder essa pergunta. 

No final das contas, a melhor coisa de 2024 pode até ter passado despercebida, mas cabe a você garantir que 2025 será um ano mais memorável. Afinal, só lembra quem treina.

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