No Dia do Controle de Poluição por Agrotóxicos, Nova Friburgo celebra avanços no cultivo sustentável de morangos e reflete sobre os desafios do uso consciente de defensivos.
No Dia do Controle de Poluição por Agrotóxicos, celebrado em 11 de janeiro, Nova Friburgo se consolida como um exemplo nacional de produção agrícola sustentável, especialmente no cultivo de morangos. Reconhecida como a maior produtora do estado do Rio de Janeiro, a cidade alia inovação e consciência ambiental, mas ainda enfrenta desafios técnicos e de mercado que impactam a produção.
Uma das inovações adotadas pelos produtores locais é o cultivo suspenso de morangos. Essa técnica, além de aumentar a produtividade, minimiza o contato dos frutos com o solo, reduzindo a incidência de pragas e doenças. Consequentemente, há uma diminuição significativa na necessidade de agrotóxicos. José Luiz Brantes, vice-presidente da Associação dos Produtores de Morango de Nova Friburgo (Amorango), afirma que o cultivo suspenso “gera menos perda da fruta” e pode ser realizado em qualquer estação.
Além do cultivo suspenso, o controle biológico tem ganhado espaço nas plantações friburguenses. Essa prática utiliza organismos naturais para combater pragas, substituindo produtos químicos. No Sítio Abaetetuba, por exemplo, os agricultores empregam ácaros predadores para controlar fungos e pulgões, além de óleo de nim para combater formigas. Essas medidas contribuem para a produção de morangos mais saudáveis e ambientalmente corretos.
Todavia, os desafios persistem. A engenheira agrônoma Camila Porto ressalta que “o erro começa na diagnose” e menciona a resistência de alguns produtores às recomendações técnicas.
O problema maior na região é a falta de produtos registrados para culturas como o morango, o que chamamos de Culturas com Suporte Fitossanitário Insuficiente (CSFI). Para soja, por exemplo, temos mais de 2.000 agrotóxicos registrados, mas para hortaliças e frutas a quantidade é mínima. Isso impede a rotação de princípios ativos, o que pode levar à resistência das pragas.
Camila também destaca a pressão do mercado consumidor:
O mesmo mercado que reclama do uso de agrotóxicos exige produtos perfeitos, sem manchas ou defeitos. Isso obriga o produtor a usar mais defensivos para atender às expectativas. No caso do morango, que é uma fruta sensível, essa pressão é ainda maior.
Para enfrentar essas questões, a assistência técnica tem sido fundamental. Programas de extensão rural oferecem suporte aos agricultores, orientando-os sobre práticas sustentáveis e uso adequado de defensivos. A Amorango, fundada em 2009, desempenha um papel crucial na organização dos produtores, promovendo a adoção de tecnologias e o acesso a mudas de qualidade internacional.
A produção de morangos em Nova Friburgo não apenas abastece o mercado local, mas também é escoada para o Rio de Janeiro e outras regiões. Com uma produção anual que ultrapassa 100 mil caixas da fruta, a cidade reafirma sua posição de destaque no cenário agrícola fluminense.
Maria das Graças Silva, produtora de morangos há 15 anos em Nova Friburgo, compartilha sua experiência:
Quando comecei, era tudo diferente. A gente usava muito mais agrotóxico porque não tinha orientação. Hoje, com o controle biológico e a assistência técnica, nossa lavoura é mais saudável, e eu vejo a diferença na saúde da minha família e no sabor do morango.
Embora Nova Friburgo tenha se tornado referência no cultivo de morangos, os desafios ainda existem. A ausência de mais produtos fitossanitários registrados e a pressão do mercado consumidor continuam sendo barreiras para os produtores locais.
Temos que trabalhar em políticas públicas que incentivem o registro de produtos para culturas menores, como hortaliças e frutas. Sem isso, fica difícil evoluir ainda mais, aponta Camila Porto.
A data serve como um lembrete da importância de equilibrar produtividade agrícola com responsabilidade ambiental. Em Nova Friburgo, o exemplo dos agricultores mostra que é possível produzir alimentos de qualidade, respeitando o meio ambiente e a saúde do consumidor.
Não é fácil mudar, mas é necessário. E Nova Friburgo está mostrando que é possível liderar pelo exemplo, conclui José Luiz Brantes.
Com iniciativas como o controle biológico, o cultivo suspenso e o fortalecimento da assistência técnica, Nova Friburgo reafirma seu compromisso com uma agricultura mais sustentável e uma produção de morangos que é orgulho para o estado e o país.
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