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Cinema de Fluxo: uma experiência sensorial

  • março 7, 2024
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O Cinema de Fluxo nos convida a questionar a linearidade e a rigidez das convenções narrativas tradicionais.

Cinema de Fluxo: uma experiência sensorial

Estou aqui para te convidar a explorar uma forma diferente de cinema, que busca tocar suas emoções por meio de imagens, priorizando o sensorial em vez da narrativa tradicional. Vamos juntos sair do óbvio e descobrir filmes que valorizam blocos de afetos, fragmentos de vida sem significados fechados e uma experiência mais corporal e sensorial.

Desde o início dos anos 2000, o chamado Cinema de Fluxo se consolidou em diversos países, caracterizando-se por uma construção de tempo não linear. Nesses filmes, não há a preocupação de seguir uma sequência cronológica ou criar clímax e oscilações dramáticas. Em vez disso, o foco está no movimento contínuo das imagens, no fluxo de tempo e espaço e na imersão sensorial, desafiando as convenções narrativas tradicionais.

Gerry | Gus Van Sant | EUA | 2003

Essa vertente frequentemente utiliza longas tomadas, planos-sequência extensos e composições visuais abstratas, enfatizando o ritmo e a estética. Obras como Gerry (2002) de Gus Van Sant, Hamaca Paraguaya (2006) de Paz Encina e Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas (2010) de Apichatpong Weerasethakul exemplificam esse estilo. Esses filmes podem ser desafiadores para o espectador, exigindo uma abertura para uma forma de cinema que valoriza a experiência sensorial acima da narrativa convencional.

Andy Warhol

O Cinema de Fluxo tem raízes na filmografia de cineastas do cinema moderno, como Michelangelo Antonioni, John Cassavetes, Andy Warhol e Robert Bresson, que exploraram essa linguagem de forma pontual entre as décadas de 1950 e 1980. Na virada do milênio, diretores como Apichatpong Weerasethakul, Claire Denis, Lucrecia Martel e Hou Hsiao-hsien consolidaram essa estética. O filme Misterioso Objeto ao Meio-Dia (2000), de Weerasethakul, é frequentemente citado como um marco na definição desse estilo, caracterizado pela criação de uma atmosfera sensorial através da exploração do tempo, do corpo e do espaço.

Misterioso Objeto ao Meio-Dia
Apichatpong Weerasethakul

Com a expansão das plataformas de streaming e a oferta de DVDs por distribuidoras independentes, o acesso a esses filmes não comerciais se tornou mais fácil, permitindo que o Cinema de Fluxo ganhe espaço e visibilidade. Cineastas como Wong Kar-Wai, Tsai Ming-liang, Naomi Kawase e Pedro Costa são alguns dos nomes que se destacam mundialmente, enquanto na América Latina, Lucrecia Martel, Carlos Reygadas e Karim Aïnouz também se consolidam como expoentes do movimento.

A Mulher Sem Cabeça | Lucrecia Martel | Argentina | 2008

O Brasil tem sua própria contribuição para o Cinema de Fluxo, com obras como O Céu de Suely (2006) de Karim Aïnouz, Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo (2010) de Aïnouz e Marcelo Gomes, e Histórias que Só Existem Quando Lembradas (2011) de Júlia Murat. Esses filmes exploram novas formas de narrar e desafiam a rigidez da estrutura tradicional de tempo e espaço, oferecendo ao público uma oportunidade de repensar suas relações com o outro e com o mundo ao seu redor.

A lista de representantes desse gênero não para de aumentar com o passar dos anos. Alguns desses cineastas já estão consolidados, como Edward Yang , Jia Zhang-Ke e Wong Kar-Wai (China); Tsai Ming Liang (Malásia); Naomi Kawase (Japão); Gus Van Sant (Estados Unidos); Claire Denis (França) e Pedro Costa (Portugal). A América Latina, como continente de vanguarda dos filmes de alta qualidade, não poderia ficar de fora, com a cineasta argentina Lucrécia Martel, o mexicano Carlos Reygadas e o brasileiro Karim Ainouz.

Claire Denis
Karim Aïnouz

Os cineastas brasileiros também produzem o cinema do sensível, filmes como O céu de Suely, 2006, de Karim Aïnouz; Deserto feliz, 2007, de Paulo Caldas; Viajo porque preciso, volto porque te amo, 2010, de Karim Aïnouz e Marcelo Gomes; Os famosos e os duendes da morte, 2010, de Esmir Filho; Os monstros, 2011, de Pedro Diogenes, Guto Parente, Luiz Pretti e Ricardo Pretti; Girimunho, 2011, de Clarissa Campolina e Helvécio Marins Jr e Histórias que só existem quando lembradas, 2011, de Julia Murat. Existem muito mais.

O Cinema de Fluxo nos convida a questionar a linearidade e a rigidez das convenções narrativas tradicionais. É um convite para abrir a mente e o coração para uma nova experiência cinematográfica, na qual o tempo e o espaço são sentidos e não apenas contados.

DICAS:

Livro: A mise en scène no cinema: Do clássico ao cinema de fluxo, por Luiz Carlos Oliveira Júnior (Autor)

Vídeo: Ensaio produzido para a disciplina Estética Cinematográfica do 3º período do curso de Cinema e Audiovisual da Faculdade de Artes do Paraná (FAP) – Universidade Estadual do Paraná (Unespar)

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